Wednesday, April 13, 2011

Os Falsos Feios

Outro dia eu estava conversando com as minhas amigas e uma delas, a Nana que é uma destas ganhadoras da loteria genética, pernas de um kilômetro bocas e olhos imensos, pele negra brilhando, me contava de um transsexual amigo dela que recentemente fez uma operação e é hoje oficialmente uma mulher. “Esta minha amiga virou um mulherão de parar o trânsito mas toda vez que agente sai junto a galera enlouquece, o povo fala um monte de coisa na rua e eu fico sem graça enquanto ela é só sorriso, balançando a cabeça como quem concorda com os comentários…. Ela não entende que as mulheres de verdade não reagem deste jeito.” E não é que é verdade? Mulheres ‘de verdade’ não se dão ao trabalho de concordar com os comentários chulos apesar de que eu tenho várias amigas que se sentem rejeitadas se os comentários não acontecem. Nós queremos ser notadas e elogiadas mas não queremos assaltos verbais.
Em Nova Iorque na maioria das vezes os comentários são de acordo com a cultura sexual reprimida “Bom Dia, Linda!” ao invés da longa (e detalhada) descrição sexual que agente escuta no Largo da Batata. Ontem, andando por Williamsburg que está be longe de ser o Largo da Batata eu estava pensando nestes encontros entre o sublime belo e o rude chulo e o que me chamou atenção é que o denominador comum das pessoas a minha volta era um certo esforço em enfeiar. Se Nova Ioque é a capital do cool Williamsburg no Brooklyn é o epicentro desta capital. No restaurante a moça do nosso lado estava usando um terno de lã grossa vermelho e preto estilo Mário Fofoca geração original (sem nada do makeover da novela atual), o rapaz atrás de nós era, dentro de todos os padrões estéticos é o que eu qualifico de “um gatinho” com olhos azuis de enlouquecer qualquer brasileiro mas tinha um bigodão assim:


Por que isto minha gente? Por que uma pessoa perfeitamente bonita se fantasiaria de feia? Eu não só não entendo como fico irritada. IRRITADA. Meu marido, um ser cool que se recusa a achar qualquer loira de olho azul atraente levanta as sobrancelhas e me pergunta, “Como assim? Você genuinamente não entende a moeda visual local?” NÃO. EU NÃO ENTENDO. E para ser sincera para mim ver estes seres perfeitos com roupas de crente que se vestiram no escuro em 1980 é igual a ver alguém queimando dinheiro em praça pública. “Você não entende que estas pessoas são de todos os lugares dos EUA, pessoas cercadas de cheerleaders de sorriso perfeito, um monte de Jennifer Anistons da vida e o que elas valorizam não é a beleza óbvia mas sim o fator “interessante”, a ironia e não o desespero de ser aceito baseado numa beleza absolutamente sem graça. Ser interessante é mais importante do que ser bonito.” UAU. A boca do meu marido se movia soltando estas palavras mas para mim era como um alien falando uma língua além da civilização ocidental. Eu sei que existem inúmeras pessoas descoladíssimas em São Paulo, amigos meus inclusive que botariam os hipsters do Brooklyn no chinelo, porém quando eu penso em beleza e vejo certas pessoas por aqui eu ainda tenho uma reação bem brasileira colonial de converter tudo em quoeficiente beleza e status. É um tique nervoso realmente patético que deixam os nova iorquinos horrorizados mas eu não consigo desativar.
Como assim? Ser linda não é ser feliz? Ser linda não é ter sucesso? Nunca ficar triste, nunca ouvir não, nunca ter que pedir algo duas vezes? E quem não é lindo? Faz o quê? Dependendo de quem você é no meio que você vive não faz a menor diferença. E talvez a zona perfeita seja como aquele perído na nossa vida quando as coisas não estavam claras, a sua personalidade, sua altura e a sua beleza ainda estavam em formação, tudo podia acontecer. Todas estas palavras pesadas como beleza, carreira, namorado, filhos eram todas igualmente misteriosas e possíveis. Eu passei um tempão achando que eu era uma coisa (feia) e um dia me surpreendi ao descobrir simulâneamente eu não era feia e que tal revelação, longe de resolver todas as minhas pendências com Deus não era importante. Infelizmente no dia em que você descobre que sua cara é bonita é o dia que tudo de não-lindo que está dentro de você ainda pesa uma tonelada e não tem rímel neste mundo que baste. Será que é por isso que o povo moderninho de Williamsburg se fantasia tanto? Será que eles encontraram o antído secreto de nunca olhar para dentro? Ou será o contrário, será que eles já olharam para dentro e descobriram como ser feliz por fora?

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