Sunday, October 31, 2010

Crisp



É outono no hemisferio norte. As folhas mudam de verde para laranja, amarelo e vermelho e gradualmente marrom até caírem todas e deixar as árvores peladas com frio, prontas para a neve do inverno.

Os americanos amam o outono e a mudança do calor para o frio, a dramaticidade das cores que explodem em tons e tomam conta da paisagem. Para eles este é um momento de transição em que o calor opressor se vai e o ar frio chega colocando os pensamento em foco. O ar fica cristalino e você vê prédios lá looonge, vê do outro lado do rio, vê as árvores do Centra Park mesmo há kilometros de distância. Eles adoram usar a palavra “crisp” para definir este momento em que tudo se torna mais visível.

Enquanto a maioria das pessoas contemplam as folhas plácidamente a minha ansiedade começa a submergir e tomar conta de pensamento mais agradáveis. “Ah sim as folhas estão lindas agora mas em dois minutos elas estarão todas no chão! E daí? Daí não é mais bonito não, é deprê.” e assim o momento presente vira passado na minha cabeça. É um retrato perfeito das minhas ansiedades diárias da perda do momento.

Talvez minha sina fosse mesmo virar uma paródia barata do Woody Allen, fosse em São Paulo ou em qualquer lugar que eu vivesse mas por que eu moro em NY eu gosto de culpar a cidade e fingir que viver no Brasil seria um ídilio sem fim. Pessoas falando alto na mesa do lado em restaurantes me incomodam o suficiente para me fazer mudar de lugar. Pessoas mascando chiclete com a intensidade de atletas olímpicos me fazem mudar de percurso ou de vagão de trem. Perfume no elevador me faz segurar a respiração. Pessoas atrás de mim na fila que me tocam mesmo que de leve qualquer parte do meu corpo me botam num estado de constante agitação mental.

E esta é uma lista resumida das coisas que eu consigo lembrar de imediato, estas são as coisas que estão “crisp” na minha memória. Ah, sim minha outra neurose é como espaço no meu cérebro. Eu me lembro de coisas totalmente irrelevantes e irritantes o tempo inteiro mas tenho que ir na yoga e fazer meditação para trazer pensamentos mais inetressantes para a superfície, e eles normalmente expiram em uma hora. Eu fico achando que meu HD está cheio de programas inúteis. As coisas pioram quando eu vejo um filme ruim ou leio um livro poracaria. Bons eram os tempos que tudo era parte da minha “formação”, boas ou ruins o importante é experienciarmos o mundo. Hoje em dia eu fico achando que estas porcarias culturais estão detonado o meu HD. Enchendo-o de lixo!

Talvez eu tenha que voltar para a terapia? Talvez todo mundo seja assim de vez em quando? Talvez eu não seja assim tão neurótica mas com certeza estas coisas todas passam na minha cabeça quando eu comtemplo as malditas folhas em sua enorme indiferença às minhas neuroses. Mas se eu comtemplar, comtemplar, contemplar, contemplar, contemplar, contemplar eu acabo pensando em outras coisas, pensando na Joan Baez (juro!) que disse “Nós não escolhemos como e quando morreremos, mas nós escolhemos o agora e como vivemos”. Amém!

5 comments:

Jorge Hori said...

Calma minha filha
É só limpar um pouco o HD
Bjs
Pai

Camila said...

Terapia é uma forma de limpar o HD... mas, de fato, nem sempre é a melhor, mais rápida ou menos dolorida...
As vezes férias funcionam melhor... um solzinho, uma prainha... nada para cuidar ou se preocupar...
Beijocas
Caju

Camila said...

Terapia é uma forma de limpar o HD... mas, de fato, nem sempre é a melhor, mais rápida ou menos dolorida...
As vezes férias funcionam melhor... um solzinho, uma prainha... nada para cuidar ou se preocupar...
Beijocas
Caju

Anonymous said...

Oi Caki querida! Pena nao estar ai para reclamarmos do outono juntas ;-) Sabe q uma vez vi um cartaz no metro sobre um servico de apoio emocional que dizia "se o seu humor cai junto com as folhas, ligue xxx". Ou seja, vc nao e a unica q se desanima com o outono... Agora, ve se se anima pq todo mundo sabe q vc adora morar em NY!! Ontem, passei por um restaurante de shabu-shabu e um wine bar aqui em Jacarta. Pensei 'q delicia, mas faz falta um friozinho para curtir essas coisas...' um beijo do outro lado do mundo, De

nina said...

caki!
faça como eu: viaje para o peru e para a bolívia, onde as pessoas dizem coisas que depois são desditas, onde nenhuma chola peruana respeita a enorme fila do banheiro feminino e onde as condições higiênicas normalmente deixam a desejar. é uma forma de reconhecer o quanto estamos viciados em condições ideais que esperamos encontrar em lugares como SP ou NY. e, apesar dos pesares, todas essas chateações foram compensadas pelas lindíssimas paisagens dos dois países.
beijinhos,
nina