Sunday, March 28, 2010

Viagem ao Centro do Universo

a noiva e eu, dançando

Meu pai tem uma regra de não falar de assuntos pessoais no blog dele, e é uma regra que eu mais ou menos sigo apesar de que meu blog é bem menos sério do que o dele. Mas vez por outra o que é “pessoal” toma conta da sua vida e imunda todos os outros compartimentos possíveis, e olha que para uma workaholic de carteirinha como eu é preciso mesmo muitas emoções para suplantarem minhas tendências de pensar em trabalho.

Mas na última semana trabalho era a última coisa na minha cabeça. Era o casamento da minha irmã e era láááááááá no Uruguay, em Montevideo. E se Montevideo era um lugar físicamente novo para mim, o destino emocional era velho conhecido. A verdadeira viagem foi para um estado (de espírito) que precedia trabalho, precedia casamento, precedia talvez algumas mágoas e traumas que de certa forma me definem. E o encontro entre pessoas, amigas, velhas amigas, irmãs e irmão foi como eu sabia que seria. Como estar numa nuvem suspensa no tempo, nós dançamos ao som de New Order e abraçamos as memórias das noites na Praia Vermelha em Ubatuba onde nós crescemos, onde passei verões eternos em transição de infância jogando buraco à adolescência sonhando acordada sonhos de quem um dia eu seria. E conforme nós dançavamos juntas felizes, olhando para trás e com a noção exata de termos sobrevivido um mundo de coisas boas e ruins nós estávamos também olhando para frente, vivendo um momento especial, comemorando o milagre que era o simples fato de estarmos físicamente no mesmo lugar na mesma hora.

E a mesma chuva que caía nos verões em Ubatuba começou a cair em Montevideo. E por que eu estava num estado de espírito alienígena a meu ser habitual eu não tive nenhum problema em dançar na chuva, descalça e descabelada (em Nova Iorque com chuva e só saio armada de guarda chuva, trench coat e botas de borracha). Meu pai sempre disse que educação é o melhor investimento que alguém pode fazer pois é algo que ninguém tira de você. E eu não sou nem louca de contradizer o Jorge Hori mas se eu puder adicionar que um outro investimento é o suporte emocional que só vem mesmo das familias, tanto a de sangue como a família que você faz pela vida. Acho que crescer do jeito que crescemos, sempre cercadas de família e os amigos da família que acabam virando sua família é o meu maior tesouro.

E as vezes você não tem idéia de que está cercada deste tesouro. Eu sempre tive uma dificuldade enorme com o fato de que eu era “a irmã da Maria Clara”, por que a Maria Clara era e sempre foi uma estrela linda que faz e acontece de tal forma que empalidece (mesmo involuntáriamente) os demais. E quando agente está tentando virar gente é difícil ter alguém tão perto que aparentemente sempre sabia de tudo e um pouco mais, eu me sentia ou talvez me fazia ser invisível. E ao reeencontrar algumas das pessoas para as quais eu me achava invisível eu vi que eu nunca fui invísivel e que o amor e o carinho que se manifestou naquele reencontro eram o mesmo carinho e amor que sempre existiram. Mas de certa forma crescer e “virar gente” significa ser capaz de identificar e aceitar o amor, o carinho e retribuir.

E no fim, depois de dançarmos até nos acabarmos, depois de cantarmos todos juntos em sânscrito, depois de nos entupirmos de doce de leite e outras delícias ficou este sentimento de ironia do destino. De perceber que a pessoa que eu era fantaziava tanto sobre o futuro e queria tanto viver num futuro e hoje a pessoa quem eu sou é uma encarnação bem sucedida do que antes era uma fantasia. E a fantasia de hoje é de não me perder na fantasia do passado, de certa forma olhar para frente mas sem esquecer e nunca deixar de ter o calor dos dias de antes. E dado o nível de papo cabeça a la Equipe deste post acredito que estou no caminho certo!



6 comments:

Unknown said...

Camis amada, eu não chorei, mas me emocionei demais seu texto é lindo. Esse dia foi muito especial pra todas nós. Também repensei muita coisa da vida. Amei te ver tão poderosa quanto querida quanto linda. Viva o contato físico, viva a internet que nos mantêm juntas mesmo longe. E mesmo sem ela quero dizer que nunca esqueci de vocês, especialmente cada uma de vocês. Muitos beijos e até breve, Sil.

Mari Labaki said...

Caki querida,

Digerindo esse texto doce, que deixou meus olhos marejados, numa linda manhã de sol, de segunda feira, digo a vc que estou pensando no papel que a fantasia tem nas nossas vidas. A belezura das suas palavras é exatamente o seu encontro com tudo isso. Amei e sim, sim, vc esta no caminho certo!! Viva!!!
Beijo grande! Mari.

CAKI•CAMILA said...

Sil,
Foi tão bom te ver! vamos ficar juntas neste espaço pequeno virtual no meio deste mundão louco e enorme!
Beijos
Camis

CAKI•CAMILA said...

Mari,
Por aqui chove e faz frio... não me ajuda em nada no meu "jetlag emocional", mas tudo bem, NY é minha casa e tio acustomada com esta relação de amor e ódio que temos!
Fantasia sim Mari, fantasia sim!!
beijos,
Caki

Unknown said...

Camis, meu pensamento foi longe ao ler seu texto e ver ou outro senti uma pontada d'água nos olhos! Me teletransportei várias vezes e fiquei emocionada em percorrer o ciclo de histórias e memórias que nos constituem! Fiquei tão feliz em sentir tantas coisas ao ler o seu texto! Amo-te!

Unknown said...

Papelão eu aqui chorando em pleno trabalho quando li teu post....

A ida pra Montevidéu naquela madrugada, com direito a troca de roupa no avião, correndo pro taxi no aeroporto roendo as unhas no trajeto com medo de chegar atrasada à cerimônia pareceriam, para alguém olhando de fora, uma insensatez. No final dia, me fizeram pensar que foi a decisão mais acertada da década (e olha que essa acaba de começar...). Um brinde às Hori, lindas, intensas e que seguem com o dom de emocionar e iluminar as pessoas que têm a sorte de serem suas amigas. Beijos, saudades, Ci