Saturday, May 3, 2008

O Aleatório o não aleatório

Para aqueles que não sabem eu e meu marido moramos num prédio de estudantes da New York University, nós somos um dos poucos “adultos” em meio a 700 adolescentes. Para aqueles que estão se perguntando porque nós nos colocamos em tal situação a resposta é simples: nós moramos (e não pagamos) numa (pequena) cobertura com vista e nascer do sol encantadores no coração de downtown Manhattan. Parte de nossa presença no prédio inclui ir a shows e peças e levar alunos conosco. Então é assim, uma relação de mútuo benefício, porém de vez em quando eu bem que me pego observando situações assim, pouco ortodoxas. E no fim eu me pergunto se é a minha idade ou se a juventude alheia misturada com o ar novaiorquino é mesmo assim meio foira do normal.

Outro dia levamos os alunos para almoçar e no caminho de volta eu conversava com uma das “alunos-monitores” que moram no prédio e são responsáveis por manter a ordem no prédio. Ela me contava das disputas entre colegas de quarto, histórias de um se tranca no banheiro três vezes ao dia para se masturbar e acaba gerando problemas práticos e situações contrangedoras. Eu pergunto se o monitor responsável teve que conversar com o menino em questão, “Menino? Não, era uma menina que se trancava no banheiro...” Ok. E eu achava que as meninas americanas tinham sexualidade nula.

No fim de semana passado nós observamos uma concentração de pessoas na praça em frente de casa. Normalmente é bem cheio nos fins de semana mas naquela noite estava acima do normal. Uma moçada pulando, dançando e dando gritinhos. Mas dançando sem música. Todos. Umas cem pessoas. Será que este povo se encontrou do nada e resolveu começar a dançar no meio da praça? Que nada, acabei descobrindo que se tratava de uma “silent rave”, uma rave silenciosa. Cada um com seu podcast sintonizado no mesmo DJ se requebrando sem parar.

Mas as histórias mais cabeludas lógico acontecem na encruzilahada da loucura dos alunos dentro da instituição, da Universidade. De aulas de filosofia cabeça eu bem que entendo pois quem estudou no colégio Equipe como eu sabe uma ou duas coisas sobre debates altamente filosóficos. E sabemos também sobre encenar happenings, deixar a criatividade rolar solta. A criatividade que está se soltando em algumas das salas de aula daqui é uma criatividade agressiva, contra colegas e professores. Numa aula de filosofia sobre Camus, um aluno trouxe aqueles bolinhos tipo muffins e informou a professora ele mesmo havia feito os muffins e eles eram parte da apresentação sobre o aleatório. Um dos muffins, disse o aluno, continha uma lâmina de gilette. Apresentação feita, discussão encerrada todos deixam a sala. E largam os muffins na mesa. Outra classe entra, alunos desavisados comem os muffins. Um deles tinha de fato, três lâminas de gilette.

Na mesma semana em frente de casa centenas de pessoas se reúnem com velas pedindo justiça no Tibet. No outro dia uma outra manisfestação com uma briga de travesseiros e coletiva pede o fim da guerra no Iraque. Penas de ganso voam pelo ar. Um happening pela paz. Sempre teremos aqueles que estão prontos para pedir paz e outros prontos para trazer a violência para a sala de aula. Um yin e yang para lá de velho mas com outras formas de se demonstrar.

1 comment:

Mari Labaki said...

Caki, my darling,

Essa do muffin, pra mim, foi a gota d'agua!
Que formas do yin e yan de se expressar, não?!!
We will survive!! (I hope so)

Bejokas saudosas!
Mari