Tuesday, September 18, 2007

Todo o Dia



Outro dia recebi um email de uma amiga dizendo que sentia falta de mais postings no blog. E eu que sempre quero fazer tudo ao mesmo tempo agora logo me senti culpada e em dívida. Quando eu comecei o blog eu queria dar vazão as coisas que vejo e penso. E naquela é época parecia meio natural, os pensamentos e os escritos. Eu ia e vinha do trabalho sem muitas neuras, sem perder muitas horas e sem muito tesão para ser sincera.

E hoje em dia, depois que tudo mudou e me colocaram em cargo de manager o trabalho mudou muito. As horas passam em reuniões, em estratégias, em gerenciando gente, orçamento, modelos, fotógrafos. Os layouts eu ainda faço mas tenho que espremer o tempo para faze-los. E as reflexões sobre a cidade, sobre a vida evaporaram, tão ali sufocados no fundo do meu cérebro, debaixo das tarefas cotidianas. E quando eu penso em escrever no blog eu me pergunto, escrever sobre o quê? E então decidi escrever sobre este cotidiano que mudou tanto. Assim, como se eu tivesse por aí na mesa do bar numa sexra feira.

Setembro em Nova Iorque é quando começa o Outono. E o Outono é a época mais mágica para este povo do norte. É o fim dos dias quentes, é a volta as aulas, é quando a economia se aquece de novo porque as pessoas voltam das férias. A humidade baixa e o ar fica fresco, limpo, dá para ver o Empire State há quarteirões de distância. As pessoas se vestem mais arrumadas, cansadas do ar desleixado do verão, Setembro é o mês do fashion week, de mostrar o guarda roupa.

Agente aqui no prédio da New York University em que moramos damos as boas vindas as hordas de alunos que vem de uma vez só, de todos os lugares dos Estados Unidos. Os pais os trazem no primeiro fim de semana e dão um beijo de até logo. Pais e filhos passam meses sem se ver. E a cambada de vinte anos se deleita, deprimime, extrapola e se sufoca na liberdade-solidão de ter dezoito anos e estar sozinho em Manhattan. É aí que eles viram os americanos self made men-women. É neste vazio sem supervisão. Nós somos a presença alienígena no prédio, não somos os pais, não somos os colegas de classe, não somos os funcioários responsáveis pela disciplina estudantil. Nós somos esta coisa meio aqui meio ali, com dinheiro para levá-los ao teatro, convidar para jantar em casa, organizar Yoga no jardim do prédio, levá-los para conhecer o Meat Packing District, fazer sarau de poesia. Eles gostam. Nos olham com aquele ar de gente vivida que na verdade não viveu muito mas tem vergonha de aditimir. Estou para ver um caipira orgulhoso por estas bandas daqui.

No trabalho onde eu antes fazia um dia de foto por semana hoje em dia eu faço três. Onde antes eu dirigia fotos de bolsas e sapatos hoje eu dirigo as modelos e os fotógrafos. Fazer casting de modelos e escolher qual delas usar para as fotos é a coisa mais ingrata desta indústria. Os portfolios chegam as pencas e você folheia balançando a cabeça, esta é magra demais, esta não é alta o suficiente, esta só etm uma expressão, esta não tem perna o suficiente, muito branca, muito loira, muito comercial, muito pouco comercial, não tem bunda, não tem peito. E mesmo quando você escolhe uma que é “perfeita” ela aparece no dia da foto totalmente diferente do que nas fotos do portfolio. Mais gorda, mais feia, mais emburrada, com cabelo curto, com espinha.

E o que você faz? Você pede para as meninas virem te ver antes da foto, regra número um. Você trabalha com agências de repeito e sérias. Mas mesmo assim desastres acontecem, as agências não dão conta. E aí você faz a foto, é gentil com a modelo e solta os cachorros na agência. Eles te reembolsam o cachê (coisa na casa dos vários mil dólares) e você retoca braço, barriga e outras pelancas no photoshop até dizer chega, troca a cabeça de uma foto por outra se for o caso.

E aí tem os dias de folga. Os dias em que eu encontro os fotógrafos de outros carnavais e nós fazemos mais fotos. Fotos for fun, sem gente enchendo o saco que tem que fazer assim ou assado. Nestes dias nós somos os nossos patrões, decidimos o tema das fotos, produzimos tudo, no caso um monte de peixe e caranguejo. Brigamos para ver que vai matar o pobre dos bichinhos, abrimos uma champagne e somos felizes. E percebemos que somos felizes por que trabalhamos com o que gostamos, as fotos sejam de gente ou de coisa, são o que nos fazem felizes. Um mundo escapista onde controlamos a luz e a estética. Um mundo onde Vinicios está errado, beleza não é fundamental, mas desde que o diretor de arte tenha decidido que não.

2 comments:

Jorge Hori said...

Camila
Cada vez melhor
Bjs

CH said...

Gata louca, rolei de rir lendo o seu blog e se não fosse tão tarde ai, te ligaria para ligar ao vivo. Quer dizer, semi ao vivo.
Que bom te ver feliz. Sim, vc está feliz, talvez também ocupada e estressada, mas não se tenha duvidas, vc esta feliz. É que vc gosta de trabalhar muié! Adora! E isso é bom, porque work is love made visible! It's through work, good work, we become who we are meant to be!