Tuesday, March 22, 2011

Pés na terra, cabeça nas nuvens


Há trinta minutos atrás eu estava no avião voando de Montevideo para o Chile escutando meu programa de rádio favorito (via podcast), o This American Life e qual não foi a minha surpresa quando o assunto do programa acabou sendo sobre esta estranha emoção que nos toma de assalto quando voamos. Uma fraqueza para emoções baratas instigadas por filmes terríveis que fazem parte de qualquer vôo. No programa eles entrevistaram pessoas que normalmente não se emocionam a tôa e quase nunca choram, como no caso deste crítico de “cinema autor” que ficou todo engasgado ao assistir um comercial (sim, leitores, um comercial) da American Express onde um executivo em viagem perde a carteira e a American Express manda um cartão novo. Acredite, a narrativa era assim prosaica. Quem sabe a edição e a música eram mais apelativas. Eu, apesar de fazer piada me indentifico bastante com o crítico. Quando eu vôo de avião eu entro numa zona onde tudo de normal fica em suspenso e acho que algumas rachaduras na minha vida terrena se afrouxam um pouco e emoções clandestinas em estilo guerrilha se infiltram no meu consciente, há mil milhas acima da terra. No avião nós não temos indicadores do que somos, ninguém sabe o que fazemos, nossas histórias nem quem conhecemos, não é que nem uma festa apertada em que pelo menos alguém (espera-se) conhece o dono da casa. Ninguém conhece ninguém e todo mundo se aperta junto. Juntos ensaiamos uma réplica da vida terrena. Jantamos, escovamos o dente, alguns colocam pijamas, uns até cortam as unhas (juro!). E assim como nos ensinamentos yogis, estamos todos vivendo no momento, vivemos não no destino mas sim na jornada. O destino chegará inevitávelmente mas temos que antes lidar com as nove ou dez horas entre nós e o destino. E olha só que coisa, a minha vida neste instante está perfeitamente alinhada com este sentimento. Eu larguei o meu trabalho em Janeiro sem nenhum motivo radical, apenas por que eu queria dar um tempo e achar alguma outra coisa. Eu não sei que outra coisa e não estou muito preocupada (mas me pergunta daqui um mês), eu estou vivendo a jornada, a procura, o momento. E assim como num avião onde involuntáriamente regredimos a um estado infantil onde levantamos quando alguém nos diz que podemos levantar, comemos apenas quando alguém nos dá de comer, desligamos nossos brinquedinhos eletrônicos assim que alguém nos manda desligar, eu estou vivendo um momento infantil onde a felicidade de certa forma está mais acessível, menos complicada e mais imediata. Sim, eu sei…estou parecendo um destes filmes de avião, cheios de clichês, roteiro barato e finais felizes. Desculpa! Mas no fim acho que a vida bem vivida é uma série de clichês. Eu vou atrás os ensinamentos de yoga e o escambau mas até hoje nunca escutei nada que não fosse absolutamente óbvio, mas se é tão óbvio, por que é tão difícil de implementar? E sabe o que eu escutei hoje na aula de yoga antes de embarcar no avião? “Pés fincados na terra são o princípio de tudo, é o que assegura a fantasia e o crescimento interno”. Faz sentido que a vida a la biscoito chinês ia me dizer isto bem no dia em que eu, taurina, pés fincados no chão e corpo na lama de tão terrena ia pegar um avião e ter todo este papo cabeça com si mesma. (Em um restaurante, no aeoporto de Santiago, Chile enquanto o avião para Nova Iorque não vem)

8 comments:

Joao Guedes said...

Camila;


Como disse: desse mato sai Coelho. Tai algo para ocupar-se....

Beijos Joao

Clara Hori said...

Rainha da Floresta, ilumina, ilumina.
O Deusa da Caneta, ilumina, ilumina.
Camisola, vc é o máximo. Que venham os biscoitos chineses.

CAKI•CAMILA said...

Rsss! Obrigada João! Clá, biscoito chinês para todos! Veio da Paula (profa de Yoga). Eu tive que sair correndo do avião para digitar por que NÃO tenho caneta e queria anotar as idéias mas não consegui! Tive que digitar rapidinho! Já estou com saudades de vc e da Marma (apesar de ser "espaço" é feminino)!

Unknown said...

querida, i miss you! vou esperar mais de um mes. cada um sabe de seu tempo. no momento certo vc me conta. bjs

ynaia said...

Caki, vc sabe o que fazer!

Anonymous said...

Querida linda,
Eu também fico super papo cabeça qdo. teho que voar. Parece um reencontro com aqulele momento em que não temos que fazer nada, a não ser o que nos mandam, e esperar chegar no destino. Então, acaba um pouco a ansiedade da vida moderna. Mil bjs.
Paula

Nina said...

Amei!
Caki nas nuvens é bem levinha - contagia.
Beijos, querida.
Nina

l said...

O bom mesmo dessa vida nova é que você, inclusive, voltou a escrever!!
viva!