Acompanhe esta saga; no meu trabalho cerca de quinze pessoas foram demitidas. Ninguém sabe ao certo por que acontence na surdina, mas na semana passada a recepcionista foi mandada embora e esta é o tipo de presença que não tem como não notar. Para todos nós ver aquela cadeira vazia deu nó na garganta (ou no estômago dependendo se você é homem ou mulher). O que passa pela cabeça é, “Será que estamos perto do fim? Será que esta empresa vai quebrar?”. No dia seguinte eu tinha sessão de foto e não acordei bem mas fui trabalhar assim mesmo, um dos designer que trabalha comigo estava de férias então a equipe estava reduzida.
Ao chegar no trabalho encontro uma das meninas com cara vermelha. “O que aconteceu?” eu pergunto, e penso “Quebramos?”. Ela me olha cheia de angústia, “Os peixinhos morreram!!”. O designer que se encontrava de férias tem um pequeno aquário com peixinhos que ele cria e mima o tempo inteiro. Na sua ausência somos todos resposáveis por alimentar as criaturas. Um de nós porém largou a janela aberta no escritório e, com este inverno metade da população do aquário congelou. Parte de mim devo dizer ficou aliviada com a descoberta, “Ah, sim são apenas os peixes”. Eu toquei minha manhã normalmente no studio fazendo fotos sem saber que o drama dos peixes mortos crescia exponentemente no escritório. A diretora de recursos humanos ficou sabendo e veio me ver no studio, “Camila, eu me sinto péssima com esta história dos peixes! Eles morreram debaixo do nosso teto! E eles ainda estão lá boiando, não pode. Não, não, é energia negativa. E o coitado do dono vai voltar de férias e decobrir que os coitados morreram e agente fez o quê? Jogou eles pela privada?”. Eu olhei bem para ela, é de brincadeira? Mas não era. Eu disse que não estava me sentindo bem mas que ela podia fazer o que ela achasse melhor. Horas depois eu fui ver a situação no escritório e ninguém estava trabalhando. “E aí gente, o que está acontecendo?”, “Ah, nada, estamos combinado um funeral para os peixes”. Funeral. Dos peixes. Sei.
Eu voltei para as fotos e deixei eles sozinho. O funeral aconteceu no mesmo dia, RH preparou um texto de despedida e música, o departamento de arte preparou uma bandeja e três caixõezinhos sob medida. Minha opinião enquanto diretora criativa não foi pedida mas dada de qualquer jeito. “Esta bandeja tá com cara de bandeja de sushi seus desvairados!!”. O modelo concordou comigo (ah, sim nós paramos as fotos para participar do funeral) e prontamentre colocou dois palitinhos na bandeja.
E lá se foram os peixes, com muito barulho e bagunça de forma escandalosa e nada clandestina. O tipo de cerimônia oposta ao tratamento que todos os desempregados estão tendo. Enquanto todos fingiam estarem dando adeus aos peixes nós todos demos adeus aos nossos colegas que se foram e a econômia que junto com os pequenos peixes está indo pela descarga.
2 comments:
Bom demais o texto! Sugestão: oferece para aquela seção de cronicas da cartacapital, ta bom demais!
bjos
camis, como eu te conheço um pouco, acreditei em cada palavra e imagem da sua história, digna de jogar no tubo de descarga. parabéns por sobreviver a ela. bjo, ciro
Post a Comment