Monday, January 19, 2009

Navegar é preciso



Morar em Nova Iorque em Janeiro é como morar na Lua. Um mundo cinza e sem pessoas. Sim eu sei o que você está pensando "mas é a LUA!" (mas é Nova Iorque!) e muitas pessoas achariam fascinante morar em tal lugar. Algo fora do ordinário, mas a verdade é que a Lua, (ou Nova Iorque) no inverno e quando não estamos a passeio é mesmo um saco. Não me entenda mal, eu amo Nova Iorque, mas não em Janeiro.

Nova Iorque em Abril é linda, com a primavera todos saem as ruas com total prazer, deitam-se nos parques e bancos com vestidos esvoaçantes. A vida acontece fora de casa, nas calçadas, as pessoas parecem mais saudáveis. E Julho no verão o prazer do calor fica ainda mais exacerbado, a cidade fede lixo e esgoto mas ninguém está nem aí. Estamos todos bebericando drinques coloridos nos bares e praias. Quando o outono chega em Setembro a cidade está cheia de árvores com folhas amarelas e vermelhas, os parques viram um espetáculo de cores. Os alunos todos começam o ano letivo daqui cheios de energia. Em Dezembro o frio chega com os primeiros floquinhos de inverno caindo do céu lindos e graciosos como pequenas bailarinas, a cidade cheia de turistas que vem de todos os lugares visitar a cidade no Natal. As lojas com vitrines de babar, ruas iluminadas, um frio aconchegante, amigos dando festas de fim de ano. No escritório, minha mesa entupida de presentes de fim de ano.

Os primeiros dias de neve a cidade fica mais silenciosa, a neve absorve o barulho, as pessoas saem menos na rua e ao andar pela manhã o silêncio e a paz dão um sentimento meio alien mas também íncrivel. Mas aí as semanas passam, o auê do ano novo passa e tudo que fica é o frio e a noção de que será frio assim por no mínimo dois meses. Meus amigos daqui estão acustumados com a depressão de Janeiro mas eu não. Talvez por que este seja o meu primeiro ano sem escapar em Janeiro, sem ir ao Brasil, sem ir ao México. Estou trancada na Lua! O Anthony não pode sair pois está com o pé pós cirurgia, eu tenho que estudar todos os fins de semana (assunto para outro posting).

E neste primeiro Janeiro sem escapismo eu olho para a o cenário lunar com olhos terrenos e coço a cabeça. Eu sei que em quesito de rituais de ano novo o Brasil é campeão (é uma lista sem fim, começando com as comidas – romã, lentilha, uva – passando pelo vestiário – calcinha e vestido conforme os desejos em pauta), mas os rituais daqui são igualmente estranhos. No dia 31 uma multidão se acotovela na Times Square HORAS a fio para ver uma bola cheia de luzes pendurada no alto despencar uns bons metros a meia noite. Juro. A tal queda dura exatos 3 segundos. Mas as pessoas vão para Times Square por volta das seis da tarde para conseguir um lugar. De pé. Debaixo de -5 graus.

Eu: Qual o significado da bola cair à meia noite?
Amiga daqui: Ah não sei! É algo festivo, a bola é toda colorida e cheia de luzes.
Eu: Mas o que acontece depois que a bola cai?
Amiga: Sei lá, você vai para a casa. O ano começa!
Eu: Mas o ano começa com algo caindo! Não é algo assim meio negativo?
Amiga: silêncio.
Eu: Ainda mais neste clima econômico...
Amiga: ...o que você faria?
Eu: Eu pularia sete ondas no Brasil.
Amiga: ?

Vivendo na Lua. Com um monte de marcianos que pegaram o trem errado e saíram de Marte e pousaram na Lua.

4 comments:

Anonymous said...

Delicia de descrição Camis... mas olha só, vem pra cá que o clima tá mega bom. Ta rolando um clima quase outono, aquela delicia incomparável... saudade de você e da terra das maçãs autocentradas.

Ale Perroca

Anonymous said...

Por outro lado, poucas pessoas curtem tanto o verão quanto as que passam por um inverno de verdade (que não é os dias de friozinho de SP).
Aqui no Uruguay é uma animação sem fim no verão. Proporcional ao desanimo do inverno...

Anonymous said...

camis, que seria do seu inverno se vc não pudesse compartilhar na web? a gente fica com vc em qualquer tempo. Na web, sempre bom.

ynaia said...

o caki.... que dó!
um beijo pra vcs