As Pistas Arqueológicas

Dentre uma galeria eclética dos mais diferentes chefes, eu tive um que dizia que queria que a revista que produzíamos fosse como uma “pista arqueológica”. Algo que, encontrada anos e anos mais tarde, iria indicar como vivíamos, quem éramos e o que queríamos naquele tempo em que a revista havia sido publicada. Em tal momento este objetivo me pareceu bastante singelo, porém um pouco ingênuo, pois revistas por mais belas que sejam me parecem sempre estar a caminho do lixo em muito pouco tempo.

As pistas arqueológicas no entanto estão espalhadas e as vezes escondidas debaixo de camadas grossas de mensagens pasteurizadas. Andando pelo Lower East Side outro dia eu me deparei com a parede da foto acima. E pensei, taí uma pista arqueológica.

Alguém achou um gato. Alguém resolveu pixar “Democracia Guiada a Laser”. Outro alguém decidiu reforçar a mensagem e escreveu “Iraque!!” à caneta na mesma parede.

E alí em frente a você: uma pequena janela para Nova Iorque. Nova Iorque que está dentro de um país que decidiu ir à guerra para “trazer democracia” a um povo oprimido. Pela janela vemos as mensagens urgentes, vindas de narrativas pessoais (alguém tomando conta de um gato perdido, solidáriamente) e coletivas, políticas, anti guerra. Mensagens bem executadas, planejadas, um desenho de avião de guerra. Mensagens espontâneas, usando prato de papel como meio: "gato branco e preto, pelo longo, lindo e doce".

Alí, inseridas na malha urbana estão as mensagens de curto prazo e de longo prazo.