Aqui vai mais um dispatch, notícias do front. E que front é este senão a luta contra uma melancolia profunda que se abateu em mim? Nada sufocante, mais como um carrapato, algo que incomoda e dói mas não muito.
Talvez seja por que este ano a primavera ainda não veio e continuamos com frio, cobrindo-nos de peles quando deviamos estar nos despindo aos poucos e aproveitando os meses em que não usamos uma camada de panos para nos proteger de algo que as vezes é brutal.
Talvez seja por causa do estudante que matou trinta alunos e professores numa universidade aqui perto. E talvez por que eu moro com alunos, no coração de uma universidade e sou casada com um professor, isto tenha me afetado mais. Mesmo agora em que a novidade segue seu curso, de manchetona, manchete, mancehtinha e começa a virar matéria pequena. Logo logo deixa espaço para algo mais quente. Que siga seu curso, até logo histeria coletiva na CNN! Até a próxima! E que bom, por que agora podemos falar de coisas mais agradáveis, menos pesadas.
E como nós sabemos falar de coisas “agradáveis e leves”! Como é divertido descobrir sites de besteiras, saber as últimas da Britney. Ah, menina, esta Britney Spears é mesmo da pá virada. Porque eu te digo, ela está com uma aparência ótima, mas na verdade ela fez lipoescultura no corpo todinho e tem depoimento do médico e tudo. E sabe que ela tomava shots de Jack Daniels quando estava amamentando, sabia, sabia? Pois é, uma tristeza.
Eu sigo, sem IPOD, com meus ouvidos expostos a todo tipo de manifestação humana. E embora eu não espere nenhuma discussão profunda nas esquinas do meu cotidiano eu devo dizer que quando eu sinto o pulso daqueles que me cercam, fisícamente e próximos em anos de vida, eu sinto um pulso nervoso e alienado. Os tais blackberries (celular+agenda+tudoquevocêpossaimaginar) na mão, fones no ouvido, fazendo um download, respodendo o amigo no messenger, mastigando um chiclete e bebendo coca cola, mais cafeína por favor. [Ah é, agora tem água com cafeína, e os donuts também, você já pode escolher se quer donut cafeinado ou decaf.] O importante e não parar, nunca. Com a mente a mil não temos que pensar em nada que não seja o agora. E não temos que pensar em nada ruim. Quando paramos usamos o grande capuz do entertainment.
E sabe, deve ser meu inferno astral, ou devo estar perto “daqueles dias” para estar em tal baixo astral. Mas é que as vezes, o que eu posso dizer? Você para (para de verdade) e pensa (pensa de verdade) e bate uma tristeza. Você olha para os lados e e fica meio incomodado com os sinais de tristeza alheio. A moça que sentou em frente de mim no metrô ontem esfregou o assento dez vezes antes de sentar. E quando sentou, sentou em cima de um lenço de papel. E quando sentou ficava levantando parte da bunda para ter certeza que o lenço ainda estava ali, barrando o mundo de tocar-lhe o traseiro.
E você olha e pensa, então tá bom. Vamos nessa, cada um um com o seu lenço na bunda, nos protegedo como podemos de algo invisível.
Friday, April 20, 2007
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment